A Sociologia dos Sistemas Cognitivos:
Observações sobre os conhecimentos em Correlações com as mentalidades coletivas
Jacob (J.) Lumier
Editor:
Bubok Publishing S.L., Madrid, março 2017, 264 págs.
Link: http://www.oei.es/historico/cienciayuniversidad/spip.php?article7434
Epígrafe
A língua, a intervenção do conhecimento, e o direito espontâneo são as instâncias por via das quais a consciência toma parte das forças produtivas em sentido lato, e desempenha um papel constitutivo nos próprios quadros sociais (grupos, classes, sociedades). Daí a relevância da sociologia do conhecimento, como disciplina científica específica, indispensável à formação intelectual, à tomada de consciência e ao ensino.
Apresentação
Redigido em 2008 e ora modificado, o presente livro é composto de vários artigos do autor [1], nos quais expõe as orientações diferenciais da sociologia do conhecimento, em continuidade do projeto de introdução intitulado O Conhecimento na Realidade Social, divulgado na OEI em janeiro de 2016 [2].
Em alternativa para as chamadas ciências da cognição – as quais, frequentemente, limitam a simbolização e o aprendizado ao indivíduo isolado –, neste livro de sociologia, os processos mentais são observados como implicados na comunicação social, e integrados nas mentalidades coletivas. O autor chama atenção para as dinâmicas espontâneas das avaliações coletivas, incluídos os juízos, as opiniões, carências, satisfações, esforços, sofrimentos e ideais.
Desenvolve um posicionamento crítico com duplo alcance: (a) contribui para superar o preconceito que desfavorece a sociologia do conhecimento, pelo qual haveria uma estrutura lógica na base das sociedades, em detrimento do psiquismo coletivo; (b) em face da confusão com a gestão dos arquivos eletrônicos, afirma o caráter humano do conhecimento, de que fazemos experiência nos debates, avaliações e reflexões dos temas coletivos reais.
Toma como básico que o estudo dos sistemas cognitivos não deve permanecer restrito às funções cerebrais e a psicologia individual. Compostos de classes e formas de conhecimento, os sistemas cognitivos existem em correlações funcionais com os quadros sociais, e têm existência independente das representações e estados mentais individuais, os quais são neles integrados.
Rio de Janeiro, março de 2017
Jacob (J.) Lumier /
Adendo em 09 de setembro 2017:
Para mais informação sobre o estatuto sociológico dos sistemas cognitivos veja o artigo NOBRE, Farley; TOBIAS, Andrew e WALKER, David. Cognição organizacional: revisão, conceitualização e contexto estratégico. Prod. [online]. 2016, vol.26, n.4 [citado 2017-09-09], pp.742-756. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65132016000400742&lng=pt&nrm=iso>. Epub 27-Out-2015. ISSN 0103-6513. http://dx.doi.org/10.1590/0103-6513.108212.
Sumário da obra
Conhecimento e Quadros Sociais 19
Os Conhecimentos São Correlacionados aos Quadros Sociais 21
Nem Culturalismo, Nem Marxismo: Notas sobre o problema da sociologia do conhecimento. 29
A Eficácia Do Conhecimento. 30
A Comunicação Dentro Do Psiquismo Coletivo 33
A Ineficácia Do “Saber Adequado” 40
A Linguagem De Conjuntos Em Sociologia. 43
A Introdução Da Dialética em Sociologia 44
A Complementaridade Dialética 46
A Implicação Dialética Mútua 48
A Reciprocidade De Perspectiva 53
O Hiperempirismo Dialético. 55
O Alcance Realista Da Dialética 56
O Problema Da Posição Filosófica 57
O Hiperempirismo Dialético É Uma Metodologia 59
As Hierarquias Múltiplas Em Teoria Sociológica 63
O Problema Chamado Passagem Do Grupo À História 64
Pluridimensionalidade Da Realidade Social 67
O Problema Da Possibilidade Da Estrutura. 70
Pluralismo Descontinuísta E Desdogmatização 75
O Pluralismo Descontinuísta 84
As Atitudes Individuais E As Coletivas 86
A Leitura Da Revista “Dialectique” (1947) 89
O Problema Da Ligação Dialética/Experiência 92
O Mundo Dos Valores e as Condutas Efervescentes 95
O Espontaneísmo Social E Coletivo 96
As Condutas Coletivas Efervescentes 97
O Caráter Racional Dos Símbolos 98
O Conflito Imaginado Do Indivíduo E Da Sociedade 100
A Intervenção Do Sociólogo. 102
A Noção Antidogmática De Mumificação Do Discursivo 103
A Ordem Dos Conhecimentos No Capitalismo 107
O Papel Preponderante Do Saber 108
O Salto Prodigioso Da Ciência 112
A Baixa Influência Do Conhecimento Político 116
O Incipiente Conhecimento De Outro 120
A Presença Da Classe Burguesa No Saber 123
O Coeficiente Social Do Conhecimento 124
Os Papéis Sociais Da Classe Burguesa 128
A Consciência De Classe Otimista Da Burguesia 129
Sociologia e Psicologia coletiva 133
Os Níveis Da Consciência Alienada 134
Objetivação E Desfiguração do Trabalho 135
A Mentalidade Adstrita À Personificação Do Capital 136
Reificação E Função De Representação 141
Um Processo De Unilateralização. 142
A Função De Representação Da Vida Psíquica 143
As Três Dimensões Do Psiquismo. 144
Reflexão Da Divisão Do Trabalho Social Em Regras De Análise 146
Consciência De Classe E Produção Simbólica 147
O Problema Do Eu Genérico Em Ciências Humanas: 149
A Descoberta Da Contemplação. 150
A Consciência Aberta Como Fenômeno De Classe 153
A Mudança Na Sociedade Industrial 155
Uma Tendência Para Universalizar A Pessoa Humana 157
Descontinuidades e Contingências na Sociologia 161
A Pluridimensionalidade Da Realidade Social 164
As Objetivações Do Universo Simbólico 169
Os Processos De Legitimação. 170
A Reificação Da Realidade Social 172
O Conhecimento Em Perspectiva Sociológica 176
O Interesse Do Pensamento Especulativo 177
A Dimensão Constringente Da Realidade Social 178
Os Conhecimentos E A Mentalidade coletiva 179
O Coeficiente Existencial Do Conhecimento 180
Alcance E Aplicação Da Sociologia Do Conhecimento 183
O Saber Como Recurso Para Se Orientar No Mundo 186
O Estudo Das Classes De Conhecimento 188
O Conhecimento De Outro e o De Senso Comum 191
A Sociologia Do Conhecimento De Outro 192
A Sociologia Do Conhecimento De Senso Comum Ou Da Vida Cotidiana. 194
A Sociologia Do Conhecimento Técnico E Do Político 197
O Caráter Específico Do Conhecimento Técnico 198
Partidarismo E Realismo conciliados 200
A Sociologia do conhecimento filosófico 207
Conhecimento Reflexivo Em Segundo Grau 208
O Conhecimento Filosófico Nas Cidades-Estados. 212
O Individualismo Greco-Romano. 214
O Conceito De Realidade Histórica 217
A Sociologia Das Formas Do Conhecimento 223
Diferenciação Das Formas Do Conhecimento 224
O Conhecimento Místico E O Racional 225
O Conhecimento Empírico E O Conceitual 226
O Conhecimento Positivo E O Especulativo 227
O Conhecimento Simbólico E O Adequado 228
Guia de termos sociológicos mencionados 244
Perfil do autor Jacob (J.) Lumier 246
Introdução
A colocação do conhecimento em perspectiva sociológica implica mais do que um procedimento metodológico: afirma uma realidade social histórica bem marcada no século vinte, que o sociólogo tem a competência de pôr em relevo.
Conhecimento e Quadros Sociais
Podem atribuir a pouca divulgação da sociologia do conhecimento à influência das teorias de interação e de papéis sociais, que desconsideram a variabilidade como um dado básico da realidade social. Pelo contrário, todo o mundo faz a experiência da variabilidade. Todos sabem que:
(a) – os indivíduos mudam de atitude em função dos grupos aos quais pertencem – sendo os grupos formados exatamente com base na continuidade e no caráter ativo de uma atitude coletiva;
(b) – os papéis sociais que os indivíduos assumem, ou os personagens que eles encarnam, mudam segundo os círculos sociais diferentes a que eles pertencem [i].
Desta sorte, um pai ou um marido muito autoritário, p.ex., pode simultaneamente desempenhar o papel de um colega particularmente atencioso, etc.;
(c) – em cada grupo um indivíduo desempenha um papel social diferente: ajustador, vendedor, professor, etc.; por outro lado, pode ele desempenhar nesses grupos papéis umas vezes sem brilho, outras vezes brilhantes; umas vezes subordinados, outras vezes dominantes;
(d) – os mesmos indivíduos e os mesmos grupos podem, segundo estruturas e conjunturas sociais variadas, desempenhar papéis muito diferentes e até opostos (ib. p. 106-7).
Uma vez que deixemos de lado as orientações das teorias de interação e de papéis sociais [ii] [ver notas complementares], poderemos reconhecer que o conhecimento varia em função dos quadros sociais.
Basta, lembrar que, na prática científica, as proposições dos problemas sofrem a influência dos “contextos sociais” pela mediação dos próprios conceitos operacionalizados nas formulações dos pensadores, já que os conceitos existem como “significados socialmente condicionados”.
Como semântica e sintaxe, a linguagem é inseparável de sua dimensão pragmática, na qual se inclui a dimensão sociológica. Desta sorte, em face de certas indagações ou seleções e proposições dos problemas, constata-se, como assinalou Wright Mills, uma influência do inter-relacionamento entre os conceitos disponíveis, por um lado, e, por outro lado, aquilo que se toma como problemática. Em suma, existe uma correlação funcional interligando os significados e a as problemáticas selecionadas pelos pesquisadores, sendo por meio dessa correlação que as indagações científicas são introduzidas no conjunto da vida social.
Os Conhecimentos São Correlacionados aos Quadros Sociais
A sociologia diferencial estuda o saber a partir dos sistemas cognitivos existentes nos diversos tipos de sociedades globais que atravessam a história. Diferencia os conteúdos cognitivos em gêneros e formas de conhecimento que descreve e classifica. Em seus procedimentos, a sociologia encontra-se em medida de oferecer um estudo científico do conhecimento bem mais completo do que não poderiam fazê-lo as orientações reducionistas que estudam a cognição.
Nestas, deixa-se frequentemente de lado o fato de que não há comunicação fora do psiquismo coletivo, de tal sorte que o estudo das operações lógicas na extensão das funções cerebrais, por exemplo, ao impor a redução imprópria da comunicabilidade, confronta-se à impossibilidade em esclarecer a ligação das ditas operações lógicas ao conhecimento do qual fazemos experiência, quando dialogamos e enunciamos juízos, avaliações, reflexões, temas.
Deve ter em conta que não se trata aqui apenas do conhecimento científico, mas de todo o juízo que pretenda afirmar a verdade sobre alguma coisa: por conhecimento devem entender os atos mentais em que se combinam em diferentes graus a experiência imediata (as intuições intelectuais, que fazem participar diretamente do real) e mediata ou indireta (as intuições emotivas e as voluntárias) com o juízo. Nota que as intuições intelectuais, as emotivas e as voluntárias são vividas ou experimentadas pelos Nós-outros, grupos, sociedades globais, sendo por via das quais, como sabem, que o plano dos valores e ideias se revela eficaz.
As orientações reducionistas deixam na sombra a ligação das operações lógicas e das funções cerebrais ao conhecimento humano [iii]. Não que o conhecimento de que fazemos a experiência humana seja refratário ao exame científico por não passar de mera ideologia.
É equivocado confundir e reduzir os símbolos sociais – que incluem as significações de uma língua – ao domínio da ideologia, confusão já questionada em relação ao behaviorismo, cujas explicações do comportamento, tomado este à margem de toda a implicação simbólica, conduzem às conclusões mais absurdas quando aplicadas às situações humanas e sociais.
A experiência é o esforço dos homens, dos Nós-outros, dos grupos, das classes, das sociedades globais para se orientar no mundo, para se adaptar aos obstáculos, para os vencer, para se modificar e modificar seus entornos. A variação do conhecimento em função dos quadros sociais pode ser pesquisada e confirmada em modo empírico, e constitui um critério científico seguro que dispõe a sociologia para verificar os conhecimentos humanos. Mas não é somente esse problema da verificação segundo critérios científicos que a sociologia soluciona.
A procedência das ordens ou da comunicabilidade em nossos juízos, critérios, avaliações, e as vias por meio das quais novos conhecimentos intercomunicados chegam a ser produzidos são outros tantos problemas científicos que a sociologia esclarece, ao estudar os sistemas cognitivos existentes e decompô-los em hierarquias de classes e formas do conhecimento.
Isto não significa subscrever a orientação abstrata na qual se afirma a suposta possibilidade da ordem social para desenvolver a sua própria lógica, como universo de relações simbólicas, tomada essa ordem como modo de distribuição do prestígio social, à maneira de Bourdieu [iv].
A projeção de uma lógica de simbolização da posição social, ou da distinção entre grupos de status, implicando inclusão e exclusão, atribuída a Max Weber, ressoa uma conjectura muito arbitrária, não somente em razão de tratar o sistema social como articulado unicamente aos mencionados polos da exclusão e da inclusão, mas porque torna diluída a referência aos quadros sociais específicos, como aspectos do estudo sociológico da consciência coletiva implicados nos sistemas cognitivos.
Quer dizer, tal lógica de simbolização das posições sociais seria válida em maneira abstrata para qualquer estrutura social, como se as lógicas sociais não sofressem variações em função de quadros sociais precisos e dos tipos de sociedades globais.
Na verdade, para além da ideologia, a sociologia diferencial não se limita o estudo das representações e funções representativas, e nem de longe pretende estabelecer a classificação dos conteúdos cognitivos em relação às justificativas ideológicas, sejam elas quais forem. Aliás, a sociologia dispõe de critérios operativos para desdogmatizar seus “conceitos” ou quadros operativos de análise e explicação [v].
Além disso, podem aprender com o mencionado autor, que a sociologia é igualmente capaz de negar operativamente qualquer pré-julgamento em relação aos conteúdos cognitivos.
Sem embargo, propõe-se abarca-los em conjuntos, a partir da distinção dos vários gêneros do conhecimento, os quais, por sua vez, diferencia em classes e formas ao decompor os sistemas cognitivos, igualmente abarcados em conjuntos e em modo comparativo, a partir dos tipos de sociedades globais que atravessam a história.
A crença de que qualquer tentativa em estudar o conhecimento para-além das simples funções lógicas e cerebrais careceria de alcance científico, atribuída às chamadas “ciências da cognição”, desconhece a imanência recíproca do individual e do coletivo, verificadas pelas teorias de consciência aberta, referidas e aplicadas no presente trabalho [vi] [ver Notas Complementares].
Na medida em que possibilitam colocar o conhecimento em perspectiva sociológica, a aplicação dessas teorias [vii] permite compreender que os conhecimentos efetivos são correlacionados e eficazes como regulamentações sociais, e permite especialmente assinalar as diferenças nas fases cognitivas por que passam os sujeitos sociais para, assimilando a sua virtualidade simbólica, se constituírem como tais, isto é, se atualizarem como intermediários e se efetivarem em quadros sociais reais.
Para ver que os conhecimentos são correlacionados aos quadros sociais, basta lembrar que, no âmbito da prática científica, toda a hipótese nova traz a marca da estrutura da sociedade em que se elaborou, como, aliás, já nos esclareceu C. Wright Mills [viii].
Quer dizer, a colocação do conhecimento em perspectiva sociológica implica mais do que um procedimento metodológico: afirma uma realidade social histórica bem marcada no século vinte, de que o sociólogo tem a competência para pôr em relevo e para esse propósito é chamado.
Lembra que o coeficiente social do conhecimento intervém também através da conceituação, a qual, geralmente, está avançada em face da experimentação.
Pluralismo Social Efetivo
Entretanto, há que eludir o posicionamento temerário de alguns autores interessados no estudo das habilidades como conteúdos cognitivos, que, na sustentação desse interesse de pesquisa, pretendem representar negativamente contra o objetivo de pesquisar o conhecimento em correlações funcionais [ix].
Contra tal posicionamento defasado, cabe lembrar que explicar o fato social do conhecimento, sua eficácia dentre as regulamentações do viver em sociedade, implica reconhecer, nas referidas correlações funcionais, um procedimento diferenciado de verificação dos determinismos, a que o sociólogo não deve faltar.
De modo semelhante à história, a sociologia é uma disciplina complexa, não dirigida para os fins práticos adotados nas ciências sociais particulares, mas orientada para pôr em relevo o que é de difícil acesso, justamente os determinismos sociais, como operações de integração dos fatos particulares nos conjuntos práticos.
Por sua vez, a sociologia do conhecimento se constitui e se impõe como disciplina científica na medida em que estabelece um método para (a) explicar a variedade dos conteúdos cognitivos, e, por essa via, (b) desenvolver uma classificação compreensiva dos mesmos, (c) com aplicação para descrevê-los [x].
As observações e comentários reunidos na presente obra exploram e projetam, justamente, as referidas correlações funcionais em escala do pluralismo social efetivo, tendo em vista pôr em relevo, a partir da reciprocidade de perspectiva, os procedimentos dialéticos de intermediação na realidade social, incluindo as complementaridades, as implicações mutuas, as ambiguidades, as polaridades.
Quando se fala de conhecimento socialmente efetivo, em sociologia, devem ter em vista como disse que nenhuma comunicação pode ter lugar fora do psiquismo coletivo (as consciências são intercomunicadas). Todo o conhecimento é comunicável (pelos mais diversos simbolismos sociais) e a língua é somente um meio para reforçar a interpenetração e a participação em um todo (o Nós-outros).
O chamado “estruturalismo” liga-se à concepção discursiva que reduz a consciência coletiva a uma simples resultante das consciências individuais isoladas, tidas como ligadas entre si pelas suas manifestações exteriores nos signos e nos símbolos – Claude Levy-Strauss, por exemplo, trata a consciência coletiva como resultante de consciências individuais ligadas na linguagem como signo exterior da fala [xi].
Insistem os autores dessa tendência de interpretação alegorista, impropriamente chamada “estruturalista”, na importância do critério da linguagem como fato, mas, ao invés de acentuar a união prévia, o todo existente (o Nós-outros) que torna possível a apreensão dos significados comuns de uma língua, tomam as manifestações exteriores de signos e símbolos em uma estrutura a que, supostamente, as consciências individuais isoladas seriam ligadas em lógica, e não em consciência coletiva. Afirmam, por exemplo, que, se há linguagem, seria supostamente lógico que possam comunicar.
Portanto, o questionável aqui é tal pressuposição discursiva da existência de um estruturalismo lógico universal na base de toda a sociedade. Um artifício que, desprovido de profundidade, acolhe sem crítica e de maneira alegórica ou inconsciente as preconcepções filosóficas do século XVIII. Agasalha, notadamente, a ideia de um “Eu genérico”, representado tanto na “vontade geral” de Rousseau quanto na “intuição transcendental” de Kant.
Como observou Bourdieu[xii], Lévy-Strauss é censurável por “incluir” o princípio da relação (ou correlação) entre as estruturas dos sistemas simbólicos e as estruturas sociais dentre as explicações demasiado fáceis e ingenuamente projetivas, que ele mesmo passou a rejeitar em favor das interpretações alegóricas.
Desta forma, pode ver que a orientação aqui elaborada não é neutra, mas tem implicação crítica, se contrapõe aos preconceitos filosóficos inconscientes.
Em suma, o presente trabalho elabora algumas linhas de análise e interpretação aplicáveis para situar, em nível de introdução, os problemas significativos de sociologia que abrem o caminho para a compreensão dos sistemas cognitivos.
Rio de Janeiro, junho 2008 / março de 2017
[1] Pelo caráter de coletânea, algumas repetições escapam à revisão.
[2] http://www.oei.es/historico/cienciayuniversidad/spip.php?article6374
[i] Cf. “A Vocação Atual da Sociologia, vol. I: Na Senda Da Sociologia Diferencial ”,tradução da 4ª edição francesa de 1968 por Orlando Daniel, Lisboa, Cosmos, 1979, 587 págs. (1ª edição em Francês: Paris, PUF, 1950), pp. 109 sq.
[ii] VER NOTAS COMPLEMENTARES.
[iii] Sobre o posicionamento de Durkeim a respeito das funções cerebrais na vida da consciência: Lumier, Jacob (J.): “O Conhecimento na Realidade Social”, http://www.oei.es/historico/cienciayuniversidad/spip.php?article6374, p 29 / 30.
[iv] Bourdieu, Pierre: “A Economia das Trocas Simbólicas”, introdução, organização e seleção dos originais em Francês por Sérgio Miceli, São Paulo, ed. Perspectiva, 1974, 361 pp.
[v] Gurvitch discute o desafio da desdogmatização como a questão do alcance da dialética complexa. Cf. Gurvitch Georges (1894 – 1965): “Dialectique et Sociologie”, Paris, Flammarion, 1962, 312 pp., col. Science.
[vi] VER NOTAS COMPLEMENTARES
[vii] É equivocado identificar as teorias de consciência aberta à filosofia fenomenológica e reduzi-las unicamente à influência de Edmund Husserl.
[viii] Wright Mills, C.: ‘Consecuencias Metodológicas De La Sociología Del Conocimiento’, in Horowitz, I.L. (organizador): ‘Historia Y Elementos De La Sociología Del Conocimiento – Tomo I’, artigo extraído de Wright Mills, C.: ‘Power, Politcs And People’, New York, Oxford University Press, 1963; tradução Noemi Rosenblat, Buenos Aires, Eudeba, 3ªedição, 1974, pp.143 a 156.
[ix] Como podem ver no livro editado por Gunter W. Remmling: “Towards the Sociology of Knowledge”, Londres, Routledge and Kegan Paul, 1973, 457 pp. Cf. págs. 289, 290.
[x] Sobre os desafios postos para a sociologia do conhecimento, ver meus trabalhos de 2013, intitulados “Curso de Sociologia do Conhecimento”, em três volumes seguintes: “Texto 01, 02 e 03”, respectivamente. Links: http://www.bubok.es/libros/226411/Curso-de-Sociologia-do-Conhecimento–Texto-01 ; http://www.bubok.es/libros/227287/Curso-de-Sociologia-do-Conhecimento–Texto-02; http://www.bubok.es/libros/229246/Curso-de-Sociologia-do-Conhecimento–Texto-03
[xi] Da mesma maneira discursiva, há quem veja as consciências individuais ligadas (a) no direito, como símbolo projetando a crença na solidariedade ou as representações coletivas dessa crença; (b) no totem religioso das sociedades arcaicas, como símbolo (bandeira ou emblema) de um clã arcaico, seu signo exterior.
[xii] Cf. Bourdieu, Pierre: “A Economia das Trocas Simbólicas”, introdução, organização e seleção dos originais em Francês por Sérgio Miceli, São Paulo, ed. Perspectiva, 1974, 361 pp., pág.33.